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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Sergipano e o Sergipanês

-Filho já comprou o pão jacó?
-De hoje mãe
-Naonde ?
-Fui na outra padaria, dei um arrodeio grande da peste
-Deixe de conversa moleque
-Se você não acredita então é nenhuma

Entendeu algo? Falei grego? Se você não é sergipano fica tranquilo que irei explicar tudo isso agora.
Todo lugar tem suas gírias e peculiaridades e aqui em Sergipe não poderia ser diferente. Apesar de ser um estado pequeno, o dicionário sergipanês é farto e é justamente sobre ele que comentarei a respeito.
Vamos a historinha então:
Você sabe o que é pão jacó? Alguma vez você foi na padaria e pediu pão jacó? Aqui é como se pede o tradicional pão francês. A expressão "de hoje" certamente só será compreendida nesse texto pelos sergipanos, pois se alguma pessoa de fora ler vai pensar que está se tratando do pão. "De Hoje" quer dizer  "há muito tempo" e geralmente o sergipano estende mais a letra "o" falando mais ou menos "De hooooooje". E "Naonde"? O sergipano fez uma junção da preposição em+a  (na) com o advérbio aonde, criando essa palavra que é dita erradamente mas que faz parte do nosso cotidiano. Mas uma coisa eu tenho certeza. Você já deu um arrodeio em algum dia da sua vida. Tá duvidando? Relaxa que essa palavra não tem nenhuma ligação com os rodeios. Arrodeio é simplesmente dar uma volta enorme em um lugar que poderia se chegar num caminho mais curto. "Deixe de Conversa" talvez seja o dito popular mais fácil de entender até agora. "Deixe de conversa" quer dizer descrença, algo que não se acredita. E "Nenhuma" o que significa? Pesquisei no dicionário Aurélio e vi a seguinte definição: falta ou ausência total de: não tem nenhum amigo. (Indica ausência de quantidade, em frases negativas.) / Nem um. Mas no dicionário sergipanês "Nenhuma" tem um outro significado. Quer dizer "Sem problema algum".
E eu como bom sergipano falo gírias também e muitas delas me fazem rir por ser até algo sem lógica como por exemplo: "Rapaz". Você que não é sergipano deve estar perguntando "e rapaz lá é alguma gíria?" e eu vou responder que sim sabe por que? Porque essa palavra a gente usa para se referir a idoso, adulto, criança, rapazes (lógico) e MULHERES (acredite se quiser). Se você mulher turista for abordada por um homem e ele te chamar de "Rapaz" não ache que ele esteja pensando que seja lésbica. É sem lógica, mas é um dito popular que todo sergipano usa.

E para facilitar sua vida para você ficar esperto na hora de trocar uma ideia com um sergipano, vou deixar aqui o Dicionário Sergipanês criado por Glauco Vinicius da infonet.com


Pão jacó: pão francês
Perainda: junção dos termos espere e ainda. Quer dizer, fique esperando.
Avexada (o): com pressa
Aquéte (aquiete) o faixo: usada para pedir que alguém contenha os ânimos, ou simplesmente que fique calma
De hoje: Há muito tempo
De hoje a oito: Daqui há uma semana
Mulher: mesmo quando se sabe o nome da pessoa a expressão é utilizada repetitivamente em uma conversa
Niuma (nenhuma): sem problema algum!
Fi (a) do cabrunco (filho do cabrunco): realça as qualidades de alguém, tanto positivas quanto negativas
Botou pá (pra) lá: arrebentou, fez muito bem. Pode ser substituída pelas expressões ‘botar pá lascar’, ‘botar pá descer’, ‘botar pocando’.
Da gota: dá ênfase a algo/alguém muito bom ou ruim
Pense: você nem imagina
E foi?: demonstra surpresa em relação à história relatada
Pegar o beco: ir embora
Caçando: procurando
Brenha: lugar muito distante
Vixe: adaptação da palavra ‘virgem’, substituindo a expressão ‘Virgem Maria’
Deixe de conversa: utilizado quando alguém não acredita, ou não quer acreditar, em uma história
Azuado (a): cheio de tarefas a cumprir, estressado
Meladinha: bebida feita com cachaça, cebola e tempero verde, servida tradicionalmente quando um bebê nasce. Muito comum em alguma zonas rurais do Estado.
Divera: derivada da expressão ‘de fato’, usada quando alguém se lembra de algo. Muito usada nas zonas rurais.
Rapaz: a palavra é usada para se referir a idosos, adultos, crianças, mulheres, moças e, por que não, a rapazes!
Avie (aviar): provavelmente derivada da palavra ‘avião’, é usada para pedir pressa a alguém
Már menino (mas menino): expressão usada para discordar de algo
Vou não: hábito dos sergipanos e nordestinos de forma geral, em colocar o verbo antes do advérbio
Mangando (mangar): apesar de estar no dicionário da língua portuguesa, apenas é utilizada na região Nordeste. Significa rir, tirar sarro.
À pulso: na marra, na força
Arrodeou (arrodear): dar uma volta completa em torno de algo ou alguém
Pois... : é uma espécie de palavra-chave no dialeto sergipano, principalmente na capital. É usada nas mais diversas situações: dúvida, discordância, desprezo, etc.
Me picar (se picar): ir embora. Surgiu da antiga expressão ‘picar a mula’
Bora embora: A expressão secular foi se modificando: ‘vamos em boa hora’ se transformou em ‘vamos embora’, que virou ‘vambora’, que ainda foi diminuída a ‘bora. O sergipano usa a repetição ‘Bora embora’.
Painho: forma carinhosa de se referir ao pai e à mãe (mainha), típico dos nordestinos.
Tá cá peste (está com a peste): expressa a descrença em uma hipótese, quando não se acredita que alguém vai tomar determinada atitude.
Tototó: barcos de pequeno porte, muito utilizados em Sergipe antes da construção da ponte João Alves, que liga Aracaju à Barra dos Coqueiros. Recebeu esse nome pelo barulho que o motor emite.
Mô fio (meu filho): gíria urbana, muito utilizada no tratamento entre amigos. O sergipano reduziu as duas palavras que, quando pronunciada, parece uma só.
Baba: partida de futebol descontraída, não oficial. Chamada de ‘pelada’ em outras regiões do país.
Nestante: abreviação da expressão ‘neste instante’. Apesar de dar idéia de presente, também é usada em frases no passado e no futuro.
Que só: expressão utilizada para dar idéia de intensidade.
Ruma: amontoado de coisas ou pessoas; o mesmo que ‘um monte’
Barriar (barrear): ficar irritado, com raiva; em sergipanês, barriar também pode ser ‘ficar azedo’
Ochente: simplifica a expressão ‘Oh, gente!’
Óia [Olha], deixe dessa: aconselha a não fazer algo ou deixar de lado algum sentimento. Pode substituir as expressões “não faça isso” ou “não pense assim”
Valeime: usado em situações de espanto ou desespero
Arretado: serve para qualificar algo ou alguém positivamente
Gastura: aflição, mal estar
E foi, foi? : repetição utilizada pelos sergipanos para enfatizar a dúvida
Eita pêga: expressão para momentos de desespero ou alegria. Ex: “Eita pêga, que coisa boa!”; “Eita pêga, o que eu faço agora?”   
Naonde: substitui, em alguns casos, o advérbio onde
Paia (de Palha, como Palhas de Coqueiro): coisa, pessoa, situação de pouco valor. E, para variar, pode ser usado também em sentido positivo.
Fi do cranco: semelhante a ‘fio do cabrunco’
Capar o gato: o mesmo que sair apressado, ‘pegar o beco’
Uma: usada para quantificar, dar idéia de muita coisa ou muitas pessoas
Eita gota: utilizada para demonstrar espanto, semelhante a ‘eita pêga’
Marroque: outra expressão para pão francês, assim como também são ‘pão d’água’, ´pão de sal’ e ´pão jacó’
Apois: expressa descrença 
Viu: substitui o OK ou simplifica a palavra 'ouviu' 
Esmolé: pessoa que pede esmolas nas ruas
Caixa de fósforo: expressão que se dá quando o indivíduo está contando uma história e antes de terminar , ele usa a expressão porque não tem argumento para terminá-la. 
Vôte: expressão usada mais pelos mais velhos, que quer dizer, que negócio estranho
Baleio: farra, brincadeira
Pisadinha: passeata em tempos de campanha eleitoral 
Ô peste: euforia, entusiasmo 
Pra caraio: dá ênfase a algo 
Mangelão: jamelão

6 comentários:

  1. Faltou aperriado, da marca azeda kkkk basta andar no interior daqui q vc aprende outros alem dos comuns haha

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    1. Verdade,o sertão de Sergipe e cheio de surpresa macho,aliás,no interior também tem o,ande tônha,diabeisso,e muito mais homem,macho,pode apostar

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  2. Achei muito legal!.
    Mas eu acho q tão substituindo fi do cranco por fi do canso

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  3. Toda linguagem muda!senão todos estariam falanda latim ainda

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  4. Gostei, vou memorizar para quando visitar o Estado

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  5. O povo arretado. Kkkkk o que significa?

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